sexta-feira, 10 de agosto de 2012

1ª Etapa: Évora - Grândola

Évora - Alcáçovas (9.08.21012)
Acordar às cinco da manhã, preparar tudo, fazer festas ao nosso lindo gatinho - que apareceu inesperadamente para se despedir - e, eram sete horas e cinco minutos quando partimos para a grande aventura.


Durante este primeiro percurso, o meu filho que ia sempre à frente, e com uma bicicleta mais "competente" - que por razões de comprimento de quadro e consequente conforto de condução não foi trocada com a minha -, devia ir a pensar: "Oh meu Deus, ela não vai aguentar!". Isto vem a propósito do facto de ele esperar bem disposto e solidário por mim, após cada subida mais caprichada. Foi sempre um cavalheiro!

Por volta das oito e quarenta e cinco, primeiro percalço surpresa... parámos (a 5 kms das Alcáçovas). Furo no pneu de trás da bicicleta do Eduardo. Não queríamos acreditar. Após tão pouco tempo de viagem e já um furo! Só trazíamos duas câmaras-de-ar suplentes e ainda faltavam cerca de 50 kms! Aproveitámos para repor energias com umas barritas...

Pusemo-nos a caminho por volta das nove e dez, parando nas Alcáçovas para verificar trajecto.

Alcáçovas - Torrão
Seguimos até ao Torrão para almoçar. Eram dez horas e quarenta minutos, e o conta-quilómetros marcava 51,46 kms. Média de andamento 20 km/h. Não nos pareceu mal para quem transporta mais 25 kg de bagagem em cada bicicleta... No que a mim diz respeito, foi um espanto, porque a média efectuada corresponde à média normal, sem bagagem, mais coisa menos coisa.

No almoço deu para refrescar - tínhamos uma fonte mesmo ali -, desenhar, descansar e brincar. Após algumas ponderações, decidimos partir pois o tempo ainda nos parecia fresco. Corria um ventinho agradável e o céu estava um pouco encoberto.


Torrão - S. Romão do Sado
Tínhamos sido avisados por uns agricultores simpáticos, que nos confirmaram o caminho a seguir, que a próxima etapa tinha um problema: uma enorme e longa subida à saída do sítio onde nos encontrávamos...

Oh não! Mesmo antes de subirmos para as bicicletas... "Eu não acredito, ... (asneira)... outra vez! Mais um furo na bicla do Eduardo!! Agora o pneu da frente...

A subida foi realmente difícil mas dominada! O trajecto seguinte pareceu-nos normal, algumas subidas e descidas, contudo, foi um trajecto extremamente difícil porque, além do calor que se fazia sentir cada vez mais, apercebemo-nos de que não tínhamos água suficiente para todo o trajecto!! No meu cantil apenas mais três goles de água "quente" e na mochila do Eduardo já não havia água... ainda bebemos um resto de coca-cola (só para ter a sensação de algum líquido e açúcar), mas a sensação de sede era cada vez maior. Nesta altura, talvez metade do percurso, de um total de 15 kms, estivesse feito. O sol abrasador mantinha-se firme, valendo-nos de quando em vez umas sombras na estrada, no lado oposto à nossa via. A esperança era S. Romão e um café com água ou uma alma caridosa. Qualquer uma das opções era o nosso oásis! Contudo não sabíamos se iríamos encontrar qualquer uma delas ou se seria um desterro sem gente. Foi um momento complicado mas que aguentámos em silêncio até ao fim.

O vislumbre do tão desejado S. Romão foi maravilhoso! Uma descida fantástica, com uma brisa reconfortante, e uma paisagem verde, muito verde. Água e arrozais. Que sensação boa. A povoação, essa, parecia-nos deserta...
E por um triz, não tínhamos água... O café estava fechado. Após alguma insistência um casal atendeu-nos. Disseram que a povoação estava a desertificar devido aos assaltos. Só este verão já haviam sido vítimas duas vezes. Abençoadas pessoas, bendita água! Dez garrafas logo de início, mais duas ou três por fim. Foi um consolo sem igual... No entanto, um pensamento (provocado por uma visão) atropelava aquele conforto... a descida que tínhamos feito para chegar fazia-me supor uma saída igual mas inversa, e um troço de estrada que tinha avistado de relance antes de chegar ao café, confirmava parcialmente aquela angústia. Suspeitava, embora não o confessasse, que teria grande dificuldade em sair dali fosse em que sentido fosse.

A seguir, arranjar uma sombra e ... desenhar, descansar, molhar os pés (o corpo todo era o nosso desejo), e depois comer.

"Ao fim da aldeia, seguem pela direita e encontram uma nespereira muito cerrada com sombra...", disse a senhora.

Era mesmo assim... ao lado da nespereira, um riacho super fresco, atravessado por umas tábuas de madeira que serviram perfeitamente para a nossa merecida pausa. Lá molhámos os pés, com vontade ficou o corpo...  mas a água não se pressentia muito limpa.



Ao fim de umas horas, o calor era sufocante e o corpo (pelo menos o meu) pedia repouso na horizontal. Foi, por incrível que pareça, muito difícil encontrar um sítio para deitar com sombra e um chão fresco. Todo o solo que nos rodeava emanava um vapor quente...

S. Romão do Sado - Grândola

Bem, chegou a hora de partir. Eram quase cinco horas e queríamos chegar a Grândola com luz do dia... sentia nessa altura uma dor nos joelhos. Não era motivada pelo terror da saída, não, era mesmo muito real que eu conheço bem esta dor. Já a tinha sentido uma vez, na famosa subida do Carrapatelo (Reguengos de Monsaraz), durante um dos Passeios de Bicicleta do Dia do Não Fumador, organizados por nós Grupo de Educação Física ao qual pertencia), anualmente para a escola. 

"É o único caminho para Grândola", palavras do senhor do café. "Essa subida devem ter que a fazer com as bicicletas pela mão. Até os carros custam a subir...", continuava ele. Nós dizíamos: "Hum, subir com elas pela mão... vamos tentar não o fazer..."

O Eduardo arrancou na frente, e eu, como era habitual atrás dele. A vontade era pouca mas o esforço foi muito. Mudança errada e... sair da bicicleta para com muito desconsolo admitir que o senhor tinha razão. Impossível para mim continuar em cima da dita. As dores nos joelhos eram quase insuportáveis mesmo a pé. Descobri que havia agravado o que quer que fosse que por ali andasse. Até à primeira sombra a minha salvação foi o meu filhote que me veio buscar. Não conseguia quase andar...

Após algum descanso, lá prosseguimos. O Eduardo sempre montado na sua bicicleta, foi subindo de sombra em sombra. E eu, sempre com ela pela mão copiava. Foi a pior prova de esforço que alguma vez fiz. Pelo menos tínhamos água...

Escusado será dizer que a seguir, apesar de ser quase tudo em recta, para mim excessivamente e para ele menos, foi a parte que mais nos custou. Os últimos quilómetros até Grândola. O cansaço das subidas anteriores, sim porque parecia uma só mas eram várias, com patamares, acrescentou-nos um desgaste enorme. Por minha causa, passámos de um andamento de 20 km/h para 15 km/h por vezes 10 km/h ou mesmo 7 km/h (em subida).

Grândola nunca mais chegava. Será que existia? Duvidávamos,... apesar dos mapas.

Finalmente,... um pouco estranha a entrada na vila. Não havia placas e parecia tipo "fim do mundo"... 

Mais à frente animámos quando vimos uma indicação que dizia: "Hotel". E era sim senhor um belo hotel: "D. Jorge de Lencastre".
Ui!... Chegámos ao paraíso. Eu só queria um banho quente e esticar-me. Era bom que houvesse vaga. Havia!!! E lugar para as bicicletas. E pessoas simpáticas e acolhedoras. E quarto maravilhoso. Tudo era bom e sabia a muito bom.


Banhinho: delicioso; problema: as dores nos joelhos. Grande dificuldade em suportar o peso do corpo sobre os mesmos. Amanhã resolvo. Jantar saboroso (quase não conseguíamos comer com o cansaço; pela primeira vez vi o Eduardo - que adora comer e fá-lo sempre que pode em quantidades valentes - desistir de acabar com o prato por pura fadiga).

Cama foi o destino imediato, e até de manhã para o pequeno-almoço das dez horas. Sono pesado com alguns despertares pontuais devido às dores nos joelhos...

Confirmei que as farmácias são o paraíso dos idosos em Portugal! Quantos e tantos medicamentos tomam... fez-me pensar: será que precisam de tanta coisa? Talvez mais exercício físico resolvesse muitos daqueles problemas. Evidentemente que o passado sem ele não ajuda. Também não cura, óbvio. Mas minimiza o estrago, disso tenho a certeza. Mantém um bem-estar duradouro. Por mim falo... afinal, apesar de tudo acabei de fazer num dia 100 km de bicicleta, a puxar metade do meu peso.

Pomadinha, ui, espero que faça efeito! Ataquei os joelhos e os ombros do Eduardo.



(O blog esteve sem actualização devido a dificuldades com acesso a internet e computador. Pedimos desculpas aos nossos seguidores.)

Texto: Susana Morais





3 comentários:

  1. Um diário muito bom...somos mesmo especiais. :) estou a seguir as vossas etapas. As tuas melhoras e cuidado. Beijos para os dois

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  2. Gosto dos desenhos do Edu. Continua.

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  3. Eduardo, adorei passear por este teu blog magnífico. São páginas de escrita, desenhos e fotos fantásticas. Ainda não consegui ler tudo, mas fiquei com vontade de copiar o teu roteiro, visitar os mesmos lugares, que já visitei, e fazer muitos desenhos, só tenho pena de não ter a tua juventude para o fazer também de bicicleta. Parabéns e um grande abraço.

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